23.10.09

Reggae independente no FuzarcA

Na segunda-feira, dia 19 de outubro, esteve presente no Fuzarca, o grupo paulista Dialeto Dub. Uma rapazeada com um pensamento muito consistente sobre a música que produzem em seus arranjos, batida total reggae da guitarra e nos elementos incorporados do soul, funk, bossanova e até maracatu.O soul fica evidente nas improvisações vocais de Bruninho, vocalista e dono da base em um violão acústico harmonioso e cheio de swing. Na percussão de Maurício brotam as heranças da mãe África e os ritmos nordestinos. Junte-se a isso as improvisações, com um "Q" de jazz e R&B nos solos do guitarrista Rodrigo e no acompanhamento do baixo do cabeludo Marcello e a batera de Robson, que preenche vigorosamente o som da banda. Além, é claro, do teclado do Gabriel.

Nas letras encontramos a proposta artística da banda: uma música que vai além do pop raso que se ouve nas FMs e da música homogênea fabricada em escala industrial que as majors da indústria fonográfica despejam no mercado. Uma letra ora de contestação, ora politicamente incorreta, por vezes irônica e chacoalhante como quem diz "Acorda, meu irmão!".Já na musicalidade, nas improvisações, misturas - por vezes conflitantes na teoria - e batidas, a banda mostra que suas influências são das mais variadas. Bob Marley governa, claro - o que você esperava... É uma banda de Reggae! Mas James Brown, Chico Science, Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Hendrix e outros grandes instrumentistas e cantores também influenciaram os integrantes dessa banda. Essa rica influência, Bruninho, vocalista, agradece a seus pais que tiveram importante participação em sua influência musical. Robson, batera e professor de musicalização infantil, destaca nessa hora a importância dos pais na formação artística da criança.

A banda completou um ano de união estável. Um ano de shows que contagiam a moçada que tem a oportunidade de ouvi-los. Uma banda independente que, como toda banda nessa situação, tem suas dificuldades e conflitos - principalmente financeiros. Questionados se abririam mão de sua proposta artística para assinar com uma grande gravadora, são categóricos: "Não aceitamos qualquer tipo de interferência em nossa arte. Acreditamos no que fazemos e nossa música tem um sentido e uma significação. Mas também temos que viver nesse mundo e não abriríamos mão de um bom contrato... Desde que não houvesse censura em nossa arte".

Infelizmente, ficaremos devendo o programa desse dia... Tivemos problemas técnicos na gravação!!

5.10.09

Comunicação comunitária e interesses comunitárioS

Quando se pensa em comunicação comunitária, logo se vem a mente um modelo midiático voltado para os interesses da comunidade, com cunho educativo e cultural, programação recheada de programas nesta linha de atuação, espaço para a experimentação e um forte sentimento de "estou fazendo algo diferente, alternativo, politicamente correto" - pelo menos esse é o discurso comum sobre o qual muitos constroem seu próprio discurso ao tentar descrever, ou imaginar, o trabalho desenvolvido por uma mídia comunitária. Por um outro ângulo, a mídia comunitária é vista como palanque de discursos políticos e panfletários.

É, acontece. Mas o dia-a-dia de muitos veículos de comunicação comunitária está longe de ser o ideal utopicamente desenvolvido no discurso comum. Questões outras permeiam o fazer comunicacional de um veículo deste gênero, como: sustentabilidade financeira, geração de renda, trabalho voluntário e responsabilidades individuais, abertura para experimentação dentro de uma programação fechada, forma de comunicação baseada no modelo comercial de rádio, por falta mesmo de referências, além da dificuldade em se apropriar de discursos construídos fora da comunidade, por ser algo estranho à ela e por conseguinte, também alheio às suas idiossincrasias. Esse último ponto é essencial para se entender porque muitos projetos culturais acabam por não cumprir seus objetivos, ou ser desvirtuados em sua concepção ao saírem do papel e tomarem vida em comunidades, ditas, carentes.

Ao se levar um projeto a uma comunidade é imprescindível, antes de mais nada, fazer as perguntas: a comunidade precisa do projeto? A comunidade o quer? Sem que o discurso interno e externo ao projeto e à comunidade estejam muito bem alinhados, torna-se impraticável a realização de um projeto, qualquer que seja, dentro de uma comunidade, também qualquer que seja. Quando isso não ocorre e o dito fica pelo não dito, ou o discurso fica apenas nas palavras e não nos atos, aí chega-se a uma bifurcação no caminho e as escolhas são: desvirtuar os objetivos iniciais do projeto e "adaptá-los" aos interesses imediatos e imediatistas da comunidade, ou parar o trabalho e levá-lo a um lugar onde ele seja realmente necessário. Muitas vezes, tentar uma terceira via pelo alinhamento forçado quando o bonde já está andando, pode gerar desgastes desnecessários.

Se a meta de um projeto cultural é a experimentação, a promoção da diversidade cultural, a oferta de oportunidades de fazer algo diferente, com concepções artísticas, culturais e midiáticas que fogem ao senso comum, então deve-se estar certo de que a comunidade onde esse projeto será desenvolvido está ciente e alinhada com os objetivos propostos. Mas não apenas isso e também que se aproprie dele como se fosse seu, desenvolvendo-o em conjunto e não se abstendo ou o deixando alheio ao seu dia-a-dia.

Um outro ponto interessante para se se analisar é o modelo de comunicação desenvolvido dentro de uma mídia comunitária. Por que, muitas vezes, o que se vê é a reprodução de um modelo comercial de rádio, de um perfil mais "vendável" e de fácil digestão, com o qual a comunidade já está "acostumada"? Por que reproduzir esse modelo e não procurar uma outra via, diferente, experimental, que busque na cultura e na educação seus pilares de funcionamento e fortalecimento? Por que, outras vezes, a mídia comunitária vira palenque para discursos políticos ou panfletários? E o que são esses discursos? Como eles se desenvolvem e se apropriam da mídia?

Não quero, agora, colocar minhas respostas, ou simples hipóteses. Quero simplesmente gerar esses questionamentos e que cada um, segundo seu próprio interesse e discursos pré-concebidos, analise e construa suas respostas.




25.9.09

Programas do projetO



À partir de agora, aqui no ComunA você poderá ouvir os programas produzidos no projeto Diversidade Cultural nas Ondas da Heliópolis. Na barra ao lado publicaremos, semanalmente, podcasts dos programas para você ouvir, baixar e comentar o que quiser.


Acompanhe os programas, as postagens sobre eles, informações e mande você também sugestões de pauta, informações sobre os temas abordados e faça Diversidade cultural nas Ondas da Heliópolis!

2.9.09

FUZARCA! Black music na veiA

Começou no dia 02 de setembro o FUZARCA, Black Music na veia, nas ondas da Rádio Comunitária Heliópolis. Com apresentação de Simbionte, um cara nada convencional, tem como proposta fazer uma grooveria cheia de swing com muito funk, rap, soul, jazz, acid jazz, samba funk, samba rock e por aí vai... conforme a imaginação e experimentação do pessoal independente, que se entranha na black music, mandar. Sons e batidas que vão nessa onda, dos quatros cantos do mundo compõem o repertório do programa.

Música que não se ouve no circuito comercial de rádio. Esse circuito, compromissado que está com com os jabás e interesses privados da indústria fonográfica, repetidora de idéias massificantes, que induzem à venda e ao consumo, tratam a arte como produto e o consumidor como uma máquina de consumir. Já aqui, nas ondas da Heliópolis e do FUZARCA, música africana, árabe, indiana, underground, música independente, música nova, com propostas diversas, fazem parte do repertório do programa. Mistura de ritmos e tendências para mostrar para a comunidade de Heliópolis o que se anda aprontando em outros cantos do mundo e do Brasil e como as produções regionais podem se apropriar dessas tendências e criar algo novo... é disso que está se falando nesse programa.

Garimpar, chafurdar, trocar idéias, criações, experimentar. Além de música, o FUZARCA traz ao programa e promove músicos e artistas de Heliópolis e também de fora da comunidade, apresentando sua arte e seus pensamentos nas ondas da rádio comunitária. A intenção é não só promover os artistas independentes e que não têm atrás de si uma gravadora grande, uma gravadora que cobra música produzida em escala industrial, de venda fácil e rima pobre, mas também trocar uma idéia com essa rapaziada. Conhecer suas influências, suas misturas, suas batidas.


O programa vai ao ar segundas e quartas-feiras, das 16h às 17h. Segunda é reservada para a black music brazuca: Funk Como Le Gusta, Black Sonora, Enigma Black, B Negão são alguns dos artistas que "swingadamente" poderão ser apreciados no FUZARCA da segunda. Além de músicas, é o dia do bate-papo. Já na quarta, é reservada para a world music: batidas dos quatros cantos do mundo. Black music pincelada com ritmos diversos: levadas de kwaito, kamele n'goni (guitarra de Mali), citara, tabla (percussão indiana), groove cigano, turco, misturado com a música politicamente incorreta de Mano Chao e o soul "rappeado" do Poets of Rhythm, US3, Ozomatli e por aí vai, mundo afora.

Esse é o FUZARCA, black music na veia!
Em breve postaremos aqui os programas.

Oficinas culturaiS

As oficinas do projeto Diversidade Cultural nas Ondas da Heliópolis começaram na última semana de agosto, mas as inscrições ainda estão abertas.
O objetivo das oficinas não é o de formar ninguém na atividade proposta. Não são cursos de formação. Diferente, disso, procuram abrir uma oportunidade para o participante construir um outro olhar sobre si mesmo e a realidade onde vive. Através do hip hop (utilizando os 5 elementos), do teatro, da literatura, da locução para rádio, das artes plásticas, de jogos e brincadeiras, do lúdico... da ARTE, procura-se trabalhar questões como pertencimento, origens, participação, comunicação comunitária, apropriação dos meios e formas de interferir no mundo. 
Essa é a proposta. Sabemos que o fazer é diferente e a meta é distante. Mas, vai sendo construída a cada dia. E esses dias têm sido interessantes para observar como estamos, com o projeto, interferindo na comunidade, como ela está respondendo a isso. Vê-se claramente que o melhor jeito não é o de impor algo para a comunidade como se aquilo fosse o melhor, não. A comunidade sabe muito bem o que quer e talvez, a melhor forma de trabalhar o que se propõe é construir junto.
Levar algo novo, alheio àquela realidade, mas que pode contribuir de alguma forma para uma "elevação espiritual", por assim dizer, naquele local e deixar que os indivíduos que compõem aquela sociedade decidam se vale a pena e se querem caminhar conosco naquele caminho. Não é e nem está sendo fácil. Mas, está se mostrando como algo prazeroso e iluminador.

Para quem quer saber um pouco mais sobre as oficinas, segue um overview sobre cada uma...
HIP HOP MC
Fazer e criar a poesia, as rimas, os sons, os versos em movimento que se encontram com as batidas do DJ para criar música. Debate e reflexão sobre a cultura urbana e a realidade do jovem no mundo e na comunidade também fazem parte dessa oficina.
terça/quinta - 09h às 11h
público: 14 anos ou +
Rádio Heliópolis - R. Paraíba, 76
HIP HOP B BOY
O corpo através da dança, Africa Bambaataa e a Breakdance... Vivencie o prazer da dança de rua e suas origens nessa oficina e conheça os passos, os ritmos e as acrobacias que fazem parte de mais esse elemento do hip hop, cheio de swing e agito.
quarta/sexta - 19h às 21h
público: 14 anos ou +
UNAS - R. da Mina, 38
LOCUÇÃO
Aprenda técnicas de locução, saiba cuidar melhor de sua voz, participe da programação da Rádio Heliópolis e conheça um pouco sobre mídias comunitárias. Descubra como uma rádio comunitária pode ser importante para sua cidade e o que você pode fazer para participar. 
terça/quarta - 14h às 16h
público: 14 anos ou +
Rádio Heliópolis - R. Paraíba, 76
OBRAS SONORAS
Literatura, rádio, teatro e improvisação sonora se encontram nessa oficina. O aluno terá a oportunidade de conhecer grandes autores da literatura brasileira e mundial com um olhar diferenciado, criando arte sonora numa espécie de rádio-novela contemporânea.
terça/quinta - 14h às 16h
público: 14 anos ou +
Rádio Heliópolis - R. Paraíba, 76
CULTURA.BR
Artes plásticas, jogos, brincadeiras, música, teatro, poesia. Através da arte, a oficina gera possibilidades de contato e abre janelas entre o participante e elementos culturais de outros brasileiros, de origem oriental, africana, indígena e européia. Além de possibilitar um olhar diferente sobre as origens do outro e de si próprio.
quarta/sexta - 09h às 11h
quarta/sexta - 14h às 16h
público: 10 a 14 anos
UNAS - R. da Mina, 38

INSCRIÇÕES E INFORMAÇÕES 11 22731844, ou direto na Rádio Heliópolis: Rua Paraíba, 76 - São Paulo