5.10.09

Comunicação comunitária e interesses comunitárioS

Quando se pensa em comunicação comunitária, logo se vem a mente um modelo midiático voltado para os interesses da comunidade, com cunho educativo e cultural, programação recheada de programas nesta linha de atuação, espaço para a experimentação e um forte sentimento de "estou fazendo algo diferente, alternativo, politicamente correto" - pelo menos esse é o discurso comum sobre o qual muitos constroem seu próprio discurso ao tentar descrever, ou imaginar, o trabalho desenvolvido por uma mídia comunitária. Por um outro ângulo, a mídia comunitária é vista como palanque de discursos políticos e panfletários.

É, acontece. Mas o dia-a-dia de muitos veículos de comunicação comunitária está longe de ser o ideal utopicamente desenvolvido no discurso comum. Questões outras permeiam o fazer comunicacional de um veículo deste gênero, como: sustentabilidade financeira, geração de renda, trabalho voluntário e responsabilidades individuais, abertura para experimentação dentro de uma programação fechada, forma de comunicação baseada no modelo comercial de rádio, por falta mesmo de referências, além da dificuldade em se apropriar de discursos construídos fora da comunidade, por ser algo estranho à ela e por conseguinte, também alheio às suas idiossincrasias. Esse último ponto é essencial para se entender porque muitos projetos culturais acabam por não cumprir seus objetivos, ou ser desvirtuados em sua concepção ao saírem do papel e tomarem vida em comunidades, ditas, carentes.

Ao se levar um projeto a uma comunidade é imprescindível, antes de mais nada, fazer as perguntas: a comunidade precisa do projeto? A comunidade o quer? Sem que o discurso interno e externo ao projeto e à comunidade estejam muito bem alinhados, torna-se impraticável a realização de um projeto, qualquer que seja, dentro de uma comunidade, também qualquer que seja. Quando isso não ocorre e o dito fica pelo não dito, ou o discurso fica apenas nas palavras e não nos atos, aí chega-se a uma bifurcação no caminho e as escolhas são: desvirtuar os objetivos iniciais do projeto e "adaptá-los" aos interesses imediatos e imediatistas da comunidade, ou parar o trabalho e levá-lo a um lugar onde ele seja realmente necessário. Muitas vezes, tentar uma terceira via pelo alinhamento forçado quando o bonde já está andando, pode gerar desgastes desnecessários.

Se a meta de um projeto cultural é a experimentação, a promoção da diversidade cultural, a oferta de oportunidades de fazer algo diferente, com concepções artísticas, culturais e midiáticas que fogem ao senso comum, então deve-se estar certo de que a comunidade onde esse projeto será desenvolvido está ciente e alinhada com os objetivos propostos. Mas não apenas isso e também que se aproprie dele como se fosse seu, desenvolvendo-o em conjunto e não se abstendo ou o deixando alheio ao seu dia-a-dia.

Um outro ponto interessante para se se analisar é o modelo de comunicação desenvolvido dentro de uma mídia comunitária. Por que, muitas vezes, o que se vê é a reprodução de um modelo comercial de rádio, de um perfil mais "vendável" e de fácil digestão, com o qual a comunidade já está "acostumada"? Por que reproduzir esse modelo e não procurar uma outra via, diferente, experimental, que busque na cultura e na educação seus pilares de funcionamento e fortalecimento? Por que, outras vezes, a mídia comunitária vira palenque para discursos políticos ou panfletários? E o que são esses discursos? Como eles se desenvolvem e se apropriam da mídia?

Não quero, agora, colocar minhas respostas, ou simples hipóteses. Quero simplesmente gerar esses questionamentos e que cada um, segundo seu próprio interesse e discursos pré-concebidos, analise e construa suas respostas.




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